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“Quero justiça”: Mãe impedida de entrar na formatura de filha revela bastidores

Após cobrança de R$ 100, mulher teria sido procurada pelo mesmo vice-diretor

Por: Jaísa de Almeida

20/12/202516:50Atualizado

A panfletista Deise de Andrade relatou como a formatura do ABC da filha, de 5 anos, na Escola Municipal Elysio Athayde, em Cajazeiras 5, em Salvador, terminou em constrangimento após ela ser impedida de participar da cerimônia. O episódio ocorreu no dia 12 de dezembro, e envolveu a cobrança de uma taxa de R$ 100 por aluno para a formatura da turma do Grupo 5.

Mãe é impedida de acompanhar a formatura da filha
Foto: Ilustrativa/Reprodução/Google Street View

De modo a esclarecer a situação, a mãe da pequena Agatha pontuou, em entrevista ao Portal Esfera, que a organização do evento começou a ser discutida em reuniões presenciais promovidas pela escola. Por trabalhar em horário comercial, ela não participou dos encontros e acompanhou as decisões por meio de grupos de mensagens no WhatsApp. Segundo Deise, desde o início a cobrança foi tratada como condição prioritária para a realização da cerimônia.

Ao detalhar como teve acesso às informações, a panfletista contou que, mesmo sem a presença física nas reuniões, acompanhava as deliberações sempre que possível, dentro das limitações impostas pela rotina de trabalho.

“Quando surgiu essa ideia da formatura, tive algumas reuniões, mas eu não pude participar, devido a que as reuniões eram sempre em horário de trabalho, mas eu fui acompanhando pelo grupo. Até porque, no meu trabalho, eu não posso estar pegando o celular”, relata.

Após a definição do valor, Deise afirmou que tentou se organizar financeiramente para cumprir o prazo estabelecido pela escola, mas não conseguiu reunir a quantia dentro do período exigido. Ainda segundo o que relatou, seguiu buscando alternativas para não ficar de fora da cerimônia, por considerar o momento importante para a filha.

Ela explicou que, ao conseguir o dinheiro na véspera da formatura, procurou a direção da unidade para apresentar a situação e tentar efetuar o pagamento, acreditando que o atraso poderia ser resolvido antes do evento:

“Definiram que ficaria 100 reais. E, assim, eu não consegui até a data que eles deram, que eles exigiram que desse. E corri atrás para poder pagar. Quando foi na véspera da formatura, eu consegui o dinheiro e fui até a escola, conversei com a direção, expliquei.”


Gestora do "não"

 

Mesmo com a tentativa, o pagamento não foi aceito. Segundo Deise, a recusa partiu da gestora da escola, identificada pelo prenome de Fernanda, e se manteve mesmo após novas tentativas de contato, tanto por mensagens quanto pessoalmente.

“Ela disse que entraria em contato comigo, não entrou. Aí eu entrei em contato com ela pelo 'zap', ela não me respondeu. Quando pensa que não, ela foi almoçar em um restaurante que tem de frente a onde eu trabalho. E aí eu fui até ela, conversei com ela novamente. E ela dizendo que não, que não podia abrir mão, que não podia me colocar lá", desabafa.

Apoio de outras mães

 

Diante da negativa da gestão, Deise afirmou que procurou outras mães da turma para relatar o ocorrido. Segundo ela, o grupo demonstrou discordância da decisão e defendeu que, por se tratar de uma escola pública, não haveria justificativa para impedir a entrada de um familiar na cerimônia.

“Conversei com as mães do grupo da escola, que é separado do grupo que a direção fez. E elas falaram assim: ‘Deise, eles não podem fazer isso, eles estão errados’. E aí elas me falaram: ‘Você vai, porque você tem que entrar, você tem o direito de entrar e de participar. É sua filha, e outra, é pública. Eles não podem proibir’”, detalha à reportagem.

Ela relatou ainda que compareceu ao local do evento acompanhando a filha, mas, ao tentar acessar o espaço da formatura, foi impedida de entrar. Segundo a mãe, a decisão foi comunicada pelo vice-diretor da escola, identificado como Felipe, mesmo após pedidos feitos por outros responsáveis presentes.

“E, simplesmente, eu fui, e quando cheguei lá, o vice-diretor Felipe me barrou e disse que eu não ia entrar. Todo mundo pediu", conta.

De acordo com a mulher, algumas mães do grupo se ofereceram para quitar o valor exigido no próprio local, na tentativa de autorizar sua entrada. A alternativa, porém, também não foi aceita pela gestão:

“Teve mães que se dispuseram a fazer o pagamento na hora ali para eles, para deixarem eu entrar, e ele negou o tempo todo e disse que essa lembrança eu não levaria, da formatura da minha filha. E que nem o prefeito Bruno Reis, se chegasse lá, me colocaria para dentro.”

 

Abordagem após a cerimônia

 

Após o encerramento da formatura, Deise relatou que o vice-diretor voltou a procurá-la, perguntou se ela havia se acalmado e, em seguida, a convidou para participar do almoço organizado para os familiares presentes no evento. Segundo a mãe, a abordagem ocorreu depois do momento em que sua presença na escola foi impedida e registrada em um vídeo, que posteriormente acabou viralizando na web.

Ainda em entrevista, ela afirmou que nunca havia vivido situação semelhante ao longo da trajetória escolar dos filhos. Disse também que o filho mais velho, hoje com 20 anos, sempre estudou em escola pública e que, até então, jamais foi impedida de participar de atividades escolares, independentemente de cobrança.

“Eu disse a ele: eu não vim atrás de comida, eu não vim atrás de bebida. Eu vim para ver a minha filha sendo formada. [...] Eu não quero fama, eu só quero justiça. Meu filho mais velho sempre estudou em escola pública, e eu nunca fui barrada em escola nenhuma, pagando algum evento ou não. Eu nunca passei essa humilhação”, lamenta.

 

Cadê a solução? 

 

Procurada pelo Portal Esfera, a Secretaria Municipal da Educação (Smed) informou, por meio de nota, que não realiza cobrança de valores para festas, formaturas ou qualquer atividade nas escolas da rede municipal, ressaltando que todas as ações são gratuitas.

Além disso, a pasta comunicou que, no dia 17 de dezembro, foi publicada no Diário Oficial do Município (DOM) a instauração de uma sindicância administrativa para apurar, de forma isenta, os fatos relacionados à ocorrência registrada na Escola Municipal Elysio Athayde.

Segundo a secretaria, o procedimento busca  esclarecer o episódio e adotar as providências cabíveis, "reforçando o compromisso com os princípios da educação pública, baseados no respeito, na legalidade, na inclusão e na transparência."

Apesar do posicionamento, a pasta não afirmou se alguma medida já vai adotada quanto à mãe e aos funcionários do colégio após sete dias do fato.